Amigas e conhecidas se reúnem para aproveitar o que não é mais usado do guarda-roupa
SILIANE VIEIRAQue a maioria das mulheres adora fazer compras, não é novidade para ninguém, mas criatividade, inteligência e vontade de se divertir fizeram com que alternativas fossem criadas pela mulherada na hora de adquirir roupas, sapatos, cosméticos e outros artigos do universo feminino. Bazares domésticos, trocas de roupas entre amigas e lojinhas criadas com peças garimpadas em coleções de grifes são algumas opções na Serra.
Passar adiante o que está esquecido no armário e dar muitas risadas são os objetivos da assistente administrativa Michele Colleoni, 28 anos, e de suas amigas no Bazar Chique, em Farroupilha. A ideia de trocar em grupo surgiu no ano passado, quando as gurias comentavam sobre o fato de terem muita coisa sem uso guardada nos armários. O escambo funciona não só com roupas, mas também com livros, perfumes, calçados, acessórios e cosméticos.
— Muitas vezes surgem coisas que ainda não foram usadas. Se procurar, todo mundo encontra alguma coisa para trocar — salienta Michele.
Michele conta que a maioria das pessoas que tomam conhecimento da iniciativa demonstram interesse em reproduzi-la. Como esse tipo de evento costuma ficar restrito a amigas e conhecidas, algumas pessoas acabam se sentindo incentivadas a promover os seus próprios encontros.
— Depois que participei de um bazar com minhas amigas, contei para as colegas do escritório, e a gente resolveu fazer também. É bem legal porque dá a sensação de que estamos fazendo negócio mesmo sem gastar — observa ela.
Na última quarta-feira, mais uma edição do Bazar Chique foi realizada. Seis garotas participaram. Entre as peças, apareceu até calcinha (nova!). Quando alguém se interessa por algum objeto, a pessoa que o trouxe se adianta e conta um pouco da história da peça, o porquê de não usá-la mais, onde comprou.... Bons negócios sempre surgem.
— Eu já troquei um brinco de onça que eu achava o “ó” por uma blusa super linda — lembra Patricia Graf, 22.
Além de se livrar de algo que, muitas vezes, apenas atrapalhava no armário, o escambo também proporciona ver as peças ganharem vida novamente ao serem adquiridas por uma amiga.
Negócios e amizades
Em Caxias do Sul, Alexandra Formolo Giacomelli, 41 anos, e Paula Pinheiro Machado, 27, largaram a profissão de bancárias para investir no comércio de roupas e calçados. O segredo do sucesso, para elas, está na forma como vendem: em uma sala comercial de propriedade de Alexandra, que de tempos em tempos manda convites para as amigas e as reúne em um bazar no melhor estilo clube da luluzinha.
— Nossa intenção é fazer com que elas se sintam bem. Muitas vezes, surgem amizades aqui — diz Alexandra, em meio às cerca de 1,6 mil peças que revende, geralmente compradas de catálogos de confecções pela internet.
A parceria das duas revela o sucesso da ideia do mercado informal.
— Conheci a Ale em um bazar de outra amiga. Conversamos, trocamos contatos e resolvemos juntar nossas mercadorias. O legal é que fica tudo íntimo mesmo. As pessoas não sentem aquela pressão para comprar, como acontece em algumas lojas. Convido as garotas e digo: “enquanto os homens tomam cerveja, a gente brinca de loja” — diverte-se Paula.
No bazar que a dupla promoveu na tarde de 12 de junho, em um prédio do bairro Cruzeiro, em Caxias, cerca de 20 mulheres experimentaram roupas e calçados e aproveitaram um coquetel preparado especialmente para elas. Entre as clientes, estavam as amigas Ângela Vidor, 26, e Daiana Lovato, 27.
— A gente fica mais à vontade, conversa, mexe em tudo, toma chimarrão. Vou sempre que fico sabendo de uma reunião dessas — fala Daiana.
As duas também vendem malhas e lingerie em reuniões promovidas por elas. Umas das vantagens que veem é que, além de a compra se tornar um happy hour, em que se come, bebe, ri e olha roupas, os bazares costumam oferecer preços mais em conta e a vantagem de contar com opiniões qualificadas sobre o resultado do look.
— A sinceridade das amigas na hora de experimentar uma roupa é sempre bem-vinda. Em uma loja, é mais difícil encontrar isso — avalia Daiana.
Revitalizando peças
Engana-se quem pensa que os bazares informais desprezam peças de grifes famosas. Thiago Aver, 26, coordenador de marketing e eventos de uma agência de publicidade em Caxias, aproveitou sua experiência em uma loja de sapatos e o fato de conhecer muitos lojistas e, claro, muitas mulheres, para promover bazares. Já foram realizadas três edições.
— O bazar agrega valor a peças que, na loja, estavam esquecidas, encalhadas. Vendi roupas com etiqueta, de marca, só que de coleções passadas, o que eu acho que não tem importância alguma, já que a moda, hoje em dia, permite que você mescle bastante — avalia Aver.
A divulgação foi feita principalmente pela internet, via e-mail e Orkut. Assim, todo mundo que apareceu era do círculo de relações dele:
— Parecia que eu estava em casa. O clima era informal, nem sacola eu tinha para oferecer.
Apaixonado por brechós e promoções, Aver acredita que eventos como esses representam grandes oportunidades para quem gosta de vender e comprar:
— Acho que o bazar pode ser o começo de tudo. Muitos lojistas grandes começaram assim.
A personal stylist Gabriele Azevedo, 32, foi uma das que resolveram levar os bazares a sério e abriu sua própria loja de acessórios em Farroupilha.
Ela conta que sempre gostou de moda e se inspirou no Mix Bazaar, feira de moda que ocorre em diversas cidades, e nas garage sales de São Paulo, comércio criado em espaços como garagens, para criar o seu próprio bazar: o Sacola Chique.
— Fiz oito edições. Pegava roupas de diversas lojas, comprava coisas em São Paulo, garimpava as peças mais interessantes e chorava pelos melhores descontos. Rolava superbem — lembra.
Por causa do trabalho na loja que mantém atualmente, os bazares de Gabriele têm sido mais raros. Mas isso indica que o que começou há cinco anos no saguão do prédio dela acabou por conquistar parte da clientela que a acompanha na loja.
– Acho que a ideia do bazar alternativo é bem bacana, abre portas para muitas outras coisas, mas precisa ter feeling para escolher as peças para a venda e não ter medo de meter a cara – acrescenta Gabriele.
Útil e agradável
A psicanalista e consultora em educação financeira Márcia Tolotti vê com otimismo a proliferação dos bazares. Ela lembra que o escambo, como o praticado por Raquel e suas amigas, é uma prática que volta às origens do comércio.
— Me parece um movimento que usa inteligência financeira, uma saída interessante das mulheres para lidar com as finanças — aponta.
Outra grande sacada é poder satisfazer a vontade da compra, porém gastando nada ou bem pouco. Para Márcia, a troca representa uma atitude bem consciente, que contempla a busca pela novidade e protege financeiramente.
— Conseguir transformar a compra em um momento lúdico, de festa, de troca e, além disso, sustentável é algo que me parece genial.
Márcia alerta, porém, que, mesmo sendo uma forma alternativa, a compra nos bazares também pode se tornar compulsiva:
— Tudo que é rígido vira dogma. Se as mulheres resolverem que sempre que os maridos forem jogar futebol elas vão se reunir para promover um bazar, isso pode ser tornar algo pouco saudável.
Fonte: Clickrbs
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